domingo, 30 de janeiro de 2022

O Velho Mundo e o Novo Mundo

     O Velho Mundo e o Novo Mundo são duas grandezas bíblicas que indicam para nós dois modos de ser, duas realidades que guardam em comum o fato de serem ambas possibilidades – e mesmo realidades – para nós, e separadas por indicarem elementos irreconciliáveis entre si. Como vimos na devocional anterior, Noé é o ponto de transição do velho para o novo mundo, é alguém que está no novo mundo ao mesmo tempo como continuidade e novidade em relação ao velho. Noé habitava um velho mundo marcado pela maldade, corrupção e pela rebelião contra Deus, ao mesmo tempo em que estando lá era um sinal da novidade porvir inaugurada após o justo juízo de Deus. Podemos significar o mundo velho pela rebelião o novo mundo pela amizade com Deus. Jesus disse no Evangelho de João: Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida (Jo 5.24).

É justamente aqui que temos o sentido e a realidade máxima do batismo, o qual tem no dilúvio a sua imagem (1Pe 3.21), pois nele temos a figura do sepultamento do velho homem no imergir nas águas, e a ressurreição do novo homem no emergir das águas (Cl 2.12). Mas Noé era a figura dessa divisa, a sombra, sendo a realidade Cristo, pois nele temos a promessa de um novo ainda mais radical, e assim mesmo o sepultamento ainda mais radical do velho mundo que subsistiu em Noé. Não nos enganemos: se a catástrofe cósmica que pôs um fim ao velho mundo em Noé se deu poderosamente, ela ainda não foi capaz de pôr um fim ao pecado do homem, pois Deus disso é testemunha no que disse após o sacrifício de Noé: Não tornarei a ferir a terra por causa do homem, pois é má a imaginação do seu coração desde a sua meninice (Gn 8.21b), se referindo à humanidade na qual Noé está incluso.
Da mesa forma é o nosso batismo: mesmo que tenhamos rompido e realizado um juízo sob o nosso velho mundo o deixado para trás mediante a fé – como foi Noé que pela fé condenou o velho mundo (Hb 11.7) –, ainda há em nós certos resquícios do pecado que ainda vivem em nós e contra os quais ainda devemos lutar – tal como Noé que foi contado com aqueles cuja imaginação e as pulsões do coração não são perfeitas. Mas tanto o batismo como o dilúvio apontam para uma realidade maior, para vinda de Cristo na consumação dos séculos. Pela fé hoje já tornamos presente, parcialmente, aquilo que se dará no fim de todas as coisas, e aguardamos, na fé, a manifestação da justiça salvadora de Deus, lá onde o novo mundo da amizade com o Senhor se sagrará vencedor contra o velho mundo da rebelião contra Deus, findando assim com o poder do pecado e da morte em nós mesmos, inaugurado o novo mundo da justiça e da alegria na terra que não será mais amaldiçoada pelo pecado humano.

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