sábado, 8 de janeiro de 2022

A Segunda Tentação

    Todos nós podemos cair em uma pista falsa a fim de provar certa habilidade e força quando somos desafiados a isso. No caso da segunda tentação [e estou seguindo a ordem de Mateus aqui (Mt 4.5-7) porque a ordem de Lucas mostra que esta é a terceira tentação (Lc 4.9)], como nas outras duas, o modo de operação do demônio é desafiar a certeza que Jesus possui a respeito de si mesmo. Mas existe um elemento importante para refletirmos aqui que diz respeito àqueles que padecem de certa temerariedade. O comportamento temerário é por vezes confundido com o comportamento corajoso, já que ambos apresentam certa semelhança. Mas não sejamos desavisados, não se trata da mesma coisa. Nos dias de hoje, principalmente em meio àqueles que propõem desafios de fé, é de fundamental importância distinguir coragem de temerariedade.

Se servindo de uma definição de Aristóteles, filósofo grego, a coragem é não temer o que não deve ser temido assim como temer o que deve ser temido. Já a temerariedade é justamente não temer o que deve ser temido e não temer o que não deve ser temido. Então entendemos que a coragem também inclui um temor que dispõe o homem à cautela, ainda que no corajoso isso não paralise a sua ação – podendo ele abortar certa ação quando sabe que é loucura se lançar a ela. O temerário é alguém que despreza e subestima o perigo, e por vezes seu comportamento é associado à insensatez, não à sabedoria, como é o caso do corajoso que une seu destemor à sabedoria e prudência. Assim, o temerário é um imprudente irracional.

    Certamente que no caso de Cristo há uma diferenciação óbvia porque não lhe faltaria poder para sair ileso do salto, mas não no nosso caso. A questão para nós está no fato de que o poder de Deus não é algo à mão, não está à nossa disposição e nem podemos ter garantia de que ao provar ter fé tenhamos o consentimento de Deus para o nosso ato. É por isso que na escritura, que foi escrita para o nosso proveito, Cristo cita as palavras: “Também está escrito: ‘Não tentarás o SENHOR teu Deus’” (Mt 4.7, par Lc 4.12). Após a desobediência no caso dos espias em Números 13,14 o povo perder o favor do Senhor, e após saber das consequências dos seus delitos (Nm 14.27-38) quis mesmo assim partir em campanha contra Canaã, o que contou com a reprovação de Moisés. Antes transgredindo por falta de fé e covardia, agora o povo transgrediu por temerariedade e subiram sem o consentimento do Senhor para Canaã apenas para lograr derrota. Há condições corretas para demonstrarmos fé no SENHOR.

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