domingo, 30 de janeiro de 2022

Aquele que já não Era

    O tronco genealógico de Noé contém certas características dignas de nota. Enoque, o sétimo depois de Adão pelo tronco de Sete, é, sem dúvidas, seu membro mais ilustre, ou um dos três mais ilustres ao lado do próprio Noé e Adão. Seu nome, חֲנוֺךְ (hanôq), significa iniciado, ou até mesmo preparado no sentido de consagrado. Todos esses significados para seu nome são pertinentes, e o mais importante é que eles iluminam o que sobre Enoque é dito em Gn 5.21-24. Como já foi dito em outro lugar nessa devocional, a linhagem de Sete (o terceiro filho de Adão) se distingue da linhagem de Caim por certo fator decisivo, pois, ao contrário da linhagem de Caim, a linhagem de Sete não desenvolveu técnicas como a pecuária desenvolvida por Jabal (Gn 4.20), ou mesmo a música por Jubal (Gn 4.21), ou a metalurgia desenvolvida por Tubalcaim (Gn 4.22a), antes, suas contribuições parecem caminhar na direção do desenvolvimento da espiritualidade, e Enoque ou Noé parecem ser disso o maior exemplo.

    O relato de Gênesis 5.21-24 nos traz algumas poucas informações sobre Enoque, mas mesmo poucas elas são suficientes para percebermos o tamanho da sua grandeza, fazendo dele um dos maiores personagens de destaque da Escritura. E aquilo que confirma a grandeza do pré-diluviano são dois testemunhos: 1) Que Enoque andou com Deus e já não era; 2) Que Deus o tomou para si. Podemos listar ao longo da Escritura três personagens com os quais isso (o arrebatamento) certamente ocorreu, que são Enoque, Elias e Jesus, e um que possivelmente ocorreu, ou seja, Moisés. Na LXX (texto grego do Antigo Testamento) a palavra usada para dizer que Enoque já não era é ουχ ηυρισκετο, que quer dizer não foi achado, e na bíblia hebraica o termo usado é אֵינֶ֕נּוּ, que quer dizer algo como ele era nada. A última forma de expressar o arrebatamento de Enoque é a mais forte das duas, e podemos entender que Enoque só era nada, ou que ele desapareceu, porque Deus era o todo dele, e isso como consequência direta do fato de que andou com Deus.
    No Novo Testamento Enoque é citado no livro de Judas (Jd 1.14,15), o penúltimo da bíblia, onde uma profecia, a da Vinda do Senhor com os seus santos e o juízo, é creditada a ele. O que alguns não sabem é que essa profecia é retirada do apócrifo Livro de Enoque, um livro imenso que relata várias profecias, assim como conversas com anjos por parte do patriarca. Não se trata de um livro inspirado (não é decisivo para a fé), mas foi recepcionado parcialmente por Judas, o que mostra o apreço apostólico pelo grande patriarca. Mas o fato é que Enoque foi tomado por Deus porque andou com Ele. Não viu a morte, como o grande profeta Elias. Assim Enoque é visualizado como uma grande obra da graça, um padrão de espiritualidade que carrega em si uma grande promessa, que é a de se andarmos com Deus, Deus tudo será e nós e não seremos colhidos pela morte ou pelo mundo.

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